sábado, janeiro 20, 2007

Um brinde ao TL

(matéria publicada na IstoÉ em 03/04/2002 - infelizmente o bar fechou antes que eu pudesse fazer uma visita e comprasse um TL. No interior havia um TL idêntico ao meu)

Amigos abrem bar em homenagem ao clássico da Volks
Camilo Vannuchi

Quem tem menos de 30 anos talvez não se lembre, mas poucos automóveis foram tão marcantes para a indústria brasileira quanto o TL. Ele permaneceu apenas cinco anos na linha de montagem da Volkswagen, entre 1970 e 1975, mas manteve para sempre o título de pioneiro no formato hatch no País. Com traseira diagonal, caracterizada pela ausência de porta-malas proeminente, o desenho explodiu na década seguinte com a chegada do Chevette, do Monza e do Passat. Mas, por enquanto, nenhum outro teve o prazer de estampar o nome nos letreiros de um bar. Inaugurado no dia 26 de março, o TL70 reproduz em seu interior uma rua sinuosa. Nas calçadas fictícias, subvertendo as leis de tráfego, carros antigos exibem seu glamour metálico, compondo um cenário de nostalgia ao lado de miniaturas e telas temáticas. “Escolhemos homenagear o TL porque é simplesmente o mais bonito”, explica o economista Fernando Hormain, 31 anos, um dos sócios do estabelecimento paulistano. Para ele, nada mais injusto do que a velha piada: “A pior coisa do TL é ter ele”, famosa nos anos 80.

Desenvolvido na Alemanha em 1966 e batizado originalmente como VW 1600 Touring Luxo, o velho homenageado repetia a plataforma do Zé do Caixão, mas sem a traseira retangular avantajada. Vendeu mais de 100 mil unidades em cinco anos sem nunca ter assumido uma condição de carro popular, como o Fusca e a Brasília. Isso explica em parte a escolha do nome do bar, que nasceu como uma brincadeira de amigos. Antes de receber balcão, churrasqueira, mesas e adega climatizada, o local era a oficina de funilaria e pintura de Luciano Frezarin, 30 anos. Vira-e-mexe, Fernando aparecia para corrigir uma raspadinha em seu fuscão. “A turma toda acabava aparecendo e a gente tomava uma cerveja aqui mesmo na oficina. Somos todos amigos de colégio. Crescemos jogando Super Trunfo (cartas com foto e descrição técnica de automóveis para duelo entre participantes)”, lembra Hormain. Foi assim que Renato Bola Maluf, 30 anos, e Davi Gebara Neto, 33, somaram à trupe seus conhecimentos em gastronomia e administração. Por exigência de Frezarin, nos fundos do estabelecimento foi mantido um pequeno estúdio para reparos. Entrada e saída dos veículos estão restritas às manhãs.

Concebido sob medida para agradar colecionadores de automóveis, o TL70 aliou-se a um estacionamento vizinho para incentivar os proprietários a levar seus tesouros ao bar. “Quem coleciona carros gosta de mostrar seu acervo. Tentaremos resgatar os bons tempos em que a praça Charles Miller reunia aos domingos os autênticos colecionadores”, resume Hormain, citando um famoso ponto de encontro da cidade, mais tarde transformado em feira livre de carros usados. De quarta a domingo, os carros serão apenas um elemento do bar, assim como a música ao vivo e a promissora costela no bafo. “Não vamos exagerar. Quem não gosta de automóveis também vai curtir o espaço”, diz Gebara, defendendo-se da acusação de tentar formar uma espécie de clube do bolinha. As luluzinhas agradecem.